O cancro permanece um dos desafios de saúde mais prementes da nossa sociedade e estima-se um aumento significativos nas suas taxas de incidência nos próximos anos, em particular, face ao envelhecimento da população um pouco por todo o mundo.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), é expectável que em 2030 existam 23.6 milhões de novos casos de cancro diagnosticados no mundo. Torna-se, pois, imperativo, agora mais que nunca, que os desenvolvimentos científicos e tecnológicos no tratamento e/ou cura do cancro sejam materializados rapidamente e de forma eficaz.
Os tratamentos inovadores do cancro têm vindo a evoluir do conceito tradicional da entrega de um fármaco para destruir um alvo no organismo, para o desenvolvimento de estratégias que potenciam as capacidades do sistema imunitário do próprio organismo. As assim chamadas imunoterapias, atuam indiretamente sobre a doença, capacitando o sistema imunitário e incitando-o a atuar sobre o cancro.
O paradigma de tratamentos individualizados, construídos tendo por base características individuais dos cidadãos, é a nova fronteira em termos de cuidado médico centrado no cidadão. Atualmente, algumas terapias disponíveis baseiam-se em material biológico ou genético do indivíduo para poderem desenvolver uma solução adequada a si.
Na área do cancro, uma nova classe de tratamentos personalizados foi aprovada pela EMA em 2018: linfócitos T com recetor antigénio quimérico, ou CAR-T. Esta é uma imunoterapia oncológica celular, que envolve a colheita de linfócitos T do doente, a sua reprogramação genética e a sua re-infusão na mesma pessoa devidamente “ensinados” de forma a combater as células cancerígenas. Contudo, mesmo após comprovada a sua eficácia e autorizada a sua introdução no mercado, estes medicamentos inovadores sofrem atualmente de dificuldades na sua adoção pelos sistemas de saúde. Estes desafios englobam a cadeia de valor quase por inteiro, desde o modelo operacional e logístico, passando pela identificação do doente certo, na altura certa, até ao pagamento e reembolso dos custos.
No fundo, estamos a falar de passar de um modelo de administração de um fármaco já pré-produzido a um doente, para um modelo em que se torna necessário colher material celular do doente em ambiente clinico, enviar essa mesma amostra para o centro de produção da empresa farmacêutica titular do medicamento para processamento e reenviá-la para o hospital para administração ao doente. É necessário desenvolver um modelo operacional que garanta a segurança e traçabilidade a cada momento, desta amostra, de forma a garantir que a mesma é administrada ao doente certo, no momento certo, no local certo. Trata-se de desenvolver todo um novo modelo logístico de entrega de cuidados que envolve a coordenação de diversas entidades que por norma não estão habituadas a trabalhar em conjunto e cujos sistemas de informação e procedimentos são muito distintos. Envolve custos, mas, acima de tudo, envolve uma mudança na cultura de silos que por vezes ainda subsiste, entre os vários intervenientes do setor da saúde.
A inovação científica continua em movimento, disso não há dúvida. De facto, projeta-se que mais 39 terapias genéticas sejam aprovadas pelas entidades reguladoras até 2022. Mas conseguirão os sistemas de saúde dos diversos países ultrapassar os obstáculos logísticos, financeiros e acima de tudo culturais que se colocam, de forma a conseguirem concretizar esta promessa científica em ganhos de saúde?
Conseguirão os sistemas de saúde, acomodar as terapias genéticas e celulares personalizadas que podem entregar todo o seu benefício terapêutico ao doente num único tratamento, criando um novo paradigma de valor?
Na EY acreditamos que sim. Como Henry Ford uma vez disse, “Podemos pensar que
conseguimos fazer, ou que não conseguimos fazer. Ambas são corretas!” No que diz respeito à implementação de novos modelos logísticos e de pagamento que suportem as terapias genéticas, os stakeholders com visão suficiente para acreditar que “conseguem fazer” são aqueles que vão trazer o verdadeiro valor ao doente.
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