Artur Côto, Senior Manager, Consulting Financial Services

Artur Côto, Senior Manager, Consulting Financial Services

Num contexto em que o mundo atravessa uma transição sem precedentes, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) estabelecidos pelas Nações Unidas, a alcançar até 2030, também conhecidos por Objetivos ou fatores ESG pela sua divisão entre: objetivos ambientais (Environment – E), objetivos sociais (Social – S) e objetivos de governo (Governance – G), têm propósitos ambiciosos, mas necessários. Entre eles, o suporte à erradicação da pobreza e outras privações, a melhoria a saúde e a educação, a redução da desigualdade e o estímulo do crescimento económico, enquanto se combatem as mudanças climáticas e trabalhamos para preservar os nossos oceanos e florestas.

Não será novidade que o setor financeiro desempenha um papel crítico na aceleração e transição para um futuro sustentável e na concretização destes objetivos, pela sua influência, atuação e função de intermediação. Assim, estes objetivos constituem uma mudança de paradigma também para o setor financeiro, que deve ser vista sobretudo como uma oportunidade de criação de valor num mercado competitivo e cada vez mais global, por contraposição a uma ameaça ao seu modelo de negócio atual.

As estratégias de transição das entidades devem considerar quatro prismas de atuação que podem ser vistas como diferentes níveis no caminho para transição do seu modelo de negócio:

  1. Operativa Interna – o primeiro passo e mais fácil, mas insuficiente para os desafios atuais – analisar as ações ESG de uma perspetiva dos processos de suporte internos. Alguns exemplos são o uso eficiente de água, eletricidade e papel, o desenvolvimento de processos para igualdade de oportunidades nos cargos internos ou a proteção das condições de trabalho;
  2. Ações para o exterior – contribuições específicas para iniciativas de promoção de SDGs – análise das iniciativas para as quais faz sentido ser parceiro ou contribuir tendo em consideração o posicionamento específico e os objetivos a médio e longo prazo da instituição. Poderão ser iniciativas de apoio social, educação, desenvolvimento de infraestrutura, ação climática e/ou proteção terreste ou oceânica;
  3. Financiamento e investimento – integração de métricas ESG nas decisões de compra ou emissão de títulos (eg através de Green ou Social Bonds) – neste nível já se afeta diretamente o modelo de negócio no sentido de suportar a transição sabendo dos impactos que criarão no bottom-line e considerando todos os incentivos existentes;
  4. Crédito e depósitos – a maior oportunidade e desafio – diferenciar os clientes e operações incluindo a sua avaliação de risco, pricing e a relação com o banco em função da sua contribuição para os fatores ESG. Neste âmbito, é necessária uma transformação estratégica de “sustainability by design” que implica um compromisso forte do órgão de administração. Tendo o Supervisor e o Regulador já sinalizado esta expectativa, as instituições não devem esperar por (mais) orientações, no sentido de aproveitar esta oportunidade para alterar o seu paradigma. Tal como nas alterações do modelo de negócio bancário do passado, as entidades pioneiras retiram os maiores benefícios e as que não o fazem, eventualmente, são preteridas pelo mercado.

No entanto, como podemos medir os resultados das ações nesta transição? Como podemos assegurar que as decisões que tomámos têm verdadeiramente em consideração os fatores ESG? Tipicamente, ainda faltam dados granulares, disponíveis e classificados para melhor conhecer e influenciar as decisões. Mas já existem entidades que avançaram especificamente para a recolha sistematizada e tratamento dos “dados ESG” dos seus produtos e serviços e esta iniciativa pode revelar-se diferenciadora para o sucesso das organizações nesta transição.