Miguel Poeira, Manager, EY-Parthenon

Miguel Poeira, Manager, EY-Parthenon

A crescente adoção de veículos elétricos por parte dos consumidores tem levado ao aumento da procura por metais críticos para a sua construção, mas as crescentes dificuldades de acesso à rede global de fornecimento podem colocar em causa a transição energética.

Apesar de o novo contexto regulatório Europeu estar a acelerar esta transição, esta poderá estagnar se os construtores automóveis não conseguirem assegurar acesso a uma cadeia de abastecimento estável dos principais minerais utilizados no fabrico de baterias elétricas e infraestruturas de carregamento.

A procura por metais críticos irá crescer de forma significativa na próxima década, com o lítio, o cobalto e o níquel a terem crescimentos na ordem dos 640%, 180%, e 105%.

Mesmo contando com a inevitável evolução da tecnologia e aumento da taxa de reciclagem das baterias, a procura poderá ser superior à oferta neste período. Não só a oferta global terá de aumentar, mas também o acesso à cadeia de abastecimento terá de ser reforçado, especialmente dada a concentração geográfica que se verifica na produção e refinação de lítio.

Apesar de ter menos de um quarto da produção mundial de lítio, a China é responsável por mais de 80% da capacidade instalada de refinação, e mais de 70% da produção de componentes e montagem das baterias. Com o acesso das principais construtoras mundiais a esta matéria-prima dificultado, estas começaram já a considerar o desenvolvimento de cadeias de abastecimento locais com capacidade de extração e refinação doméstica como opções viáveis.

Atualmente, a capacidade de refinação de lítio na Europa é praticamente inexistente, com o modelo “refinado, não extraído” a exigir fortes investimentos na capacidade de refinação e complexos modelos de sourcing da matéria-prima, alavancando a relação com o mercado Australiano enquanto parceiro estratégico.

As construtoras automóveis têm vindo a investir no sentido de ultrapassar este obstáculo, criando funções internas de trading (à semelhança das grandes refinarias mundiais de crude) e parcerias estratégicas de fornecimento com empresas de mineração.

A eletrificação será um pilar da transição energética. No entanto, as dificuldades de acesso a uma cadeia de abastecimento global e estável dos minerais críticos poderá abrandar esta transição. A colaboração entre os vários atores do ecossistema de mobilidade, e destes com as empresas de mineração, será um importante passo no sentido de ultrapassar este obstáculo.